quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Links para textos essenciais!

Uma das discussões centrais da ética contemporânea é sobre a consideração moral dos animais não-humanos. Animais não-humanos devem ser considerados moralmente? Se sim, a vida deles vale tanto quanto a de um ser humano? Devemos então parar de comê-los? Devemos então parar de fazer experimentos neles? Devemos parar de usá-los para nos servir, seja lá em qual área for? 

Segundo entendo os argumentos endereçados por ambos os lados da questão, todas as respostas para essas perguntas é "sim". Mas, que tal dar uma olhada nos argumentos com os próprios olhos, a partir de textos de filósofos que iniciaram a discussão?

Textos clássicos introdutórios sobre ética animal:

A Significância do Sofrimento Animal (Peter Singer):

http://www.olharanimal.net/capa/1034-petersinger/1047-a-significancia-do-sofrimento

O Caso dos Direitos Animais (Tom Regan):

http://www.olharanimal.net/capa/1058-tomregan/1071-o-caso-dos-direitos-animais
______________________________________________________________


Uma pergunta que sempre surge é: "se levarmos os interesses dos animais a sério, deveríamos impedir os danos que eles sofrem e que não são causados por nós? Por exemplo, na natureza há predação, inanição, parasitismo, doenças, morte por queimadura, frio, etc. Deveríamos tentar minimizar esses males?

A maioria dos filósofos da ética animal (e a maioria das pessoas, incluindo a maioria dos defensores dos animais) endereça alguns argumentos para dizer que não temos esse dever. É aí que minha posição se distancia da posição dessas pessoas, porque, em meu entender, nenhum dos argumentos realmente procede. Uma análise desses argumentos eu fiz aqui: http://lucianoccunha.blogspot.com/2010/08/sobre-danos-naturais.html

E agora, que tal dar uma olhada no que outros filósofos, que também defendem que temos esse dever, tem a dizer sobre a questão? Abaixo, coloquei alguns links com textos sobre o assunto.

Antes de entrarmos no debate ético sobre a questão, é importante ter em mente como é realmente a vida dos animais no mundo natural. Infelizmente, tal vida não é o paraíso que gostamos de imaginar - pelo contrário. Portanto, abaixo estão alguns links de textos que descrevem a vida natural:

DAWRST, Allan. How Many Animals are There? Disponível em http://www.utilitarian-essays.com/number-of-wild-animals.html


DAWRST, Allan. The Predominance of Wild-Animal Suffering over Happiness: An Open Problem. Disponível em http://www.utilitarian-essays.com/wild-animals.pdf


DAWRST, Allan The Importance of Wild-Animal Suffering. Disponível em http://www.utilitarian-essays.com/suffering-nature.html 

«A quantidade total de sofrimento por ano no mundo natural está para lá de toda a contemplação decente. Durante o minuto que me leva a compor esta frase, milhares de animais são comidos vivos, outros correm pelas suas vidas, a gemer de medo, outros são lentamente devorados por dentro por parasitas vorazes, milhares de todos os tipos morrem de fome, sede e doença". (Richard Dawkins).

Tendo em mente já os fatos sobre o mundo natural, que tal entrar agora no debate ético sobre a questão?
Abaixo estão alguns excelentes artigos que podemos encontrar na internet sobre o tema:

Textos sobre intervenção na natureza e minimização do sofrimento:


Salvando o Coelho da Raposa (Steve F. Sapontzis):

http://www.olharanimal.net/capa/1145-steve-f-sapontzis/1358-salvando-o-coelho-da-raposa-1

Contra o Apartheid das Espécies (Yves Bonnardel):

http://www.olharanimal.net/capa/1119-yvesbonnardel/1121-contra-o-apartheid

Disvalue in Nature and Intervention (Oscar Horta):

http://www.olharanimal.net/pensata-painel/1138-devemos-intervir-na-predacao/1350-oscar-horta

"Quando nossos interesses, ou os interesses daqueles que nos importamos serão danados, não reconhecemos uma obrigação moral de 'deixar a natureza seguir o seu curso', mas, quando não queremos ser importunados com uma obrigação, 'esse é o jeito que o mundo funciona' provê uma boa desculpa" (Steve Sapontzis)

"Tivesse sido a 'Mãe Natureza' uma mãe real, ela estaria na cadeia por abuso infantil e assassinato" (Nick Bostrom)

Já o texto abaixo é para termos uma melhor compreensão do que nos ensina a teoria proposta por Darwin. É comum que muitas pessoas, inclusive algumas que afirmam aceitarem a teoria de Darwin, afirmarem que há, por trás dos processos naturais, uma inteligência guiando tais processos e uma meta nos mesmos. Nada poderia estar mais distante, e ser mais contrário, ao que Darwin quis mostrar com sua teoria. O artigo abaixo esclarece alguns desses equívocos:

A Natureza não Escolhe (David Olivier):

http://www.olharanimal.net/capa/1136-david-olivier/1327-a-natureza-nao-escolhe

______________

"Seja lá qual tiver sido o começo desse mundo, o final será glorioso e paradisíaco, para além do que nossa imaginação pode conceber" (Joseph Priestley)

Já imaginou um mundo real (e não imaginário) onde não houvesse sofrimento algum, e a felicidade fosse tão extrema que fizesse parecer quase nada o maior pico de felicidade que alguém já sentiu até hoje? Imagine que, além disso, nós manteríamos (aumentaríamos, na verdade) nossa inteligência, criatividade artística e senso crítico? Imagine que, além disso, não apenas os humanos, mas todas as criaturas sencientes também viveriam em paz, sem nenhum sofrimento.

Ficção? Não. Um filósofo inglês chamado David Pearce propõe exatamente isso, e argumenta que a construção de tal paraíso será tecnicamente possível num futuro não muito distante. O autor oferece razões também do porquê temos o dever de criar tal mundo.

(Em tempo: David Pearce estará no Brasil em Novembro de 2010, discutindo sua proposta).

Textos sobre transhumanismo e abolição do sofrimento:

O Projecto Abolicionista (David Pearce):

http://www.abolitionist.com/portuguese/index.html

Reprogramar os Predadores (David Pearce):

http://www.abolitionist.com/reprogramming/portugues/index.html

Neurociência Utopista (David Pearce):

http://www.superhappiness.com/portugues/index.html

Entrevista com Nick Bostrom e David Pearce:

http://www.hedweb.com/transhumanism/portugues.html



___________
"Não há argumentos biológicos, físicos, matemáticos ou históricos contra a filosofia. Qualquer argumento contra a filosofia teria de ser filosófico. Portanto, para rejeitar a filosofia temos de filosofar. O que demonstra que a filosofia é inevitável. Argumentar contra a filosofia é como gritar "Não estou a gritar!" (Desidério Murcho)

Infelizmente, vivemos em um mundo onde o pensamento crítico é algo raro. A maioria das pessoas sustenta com uma convicção gritante a idéia de que disputas sobre determinados assuntos como "o que é o certo/errado?", "o que é possível conhecermos?", "temos livre arbítrio ou somos determinados?", "O que sou eu?" não passam de meras questões de opinião pessoal. Talvez essas pessoas nunca tenham examinado mais de perto e com rigor metodológico essas crenças, e infelizmente continuam a pensar que a filosofia não passa de devaneios. Portanto, pra desfazer tais equívocos, deixo abaixo os links de dois textos ótimos, de autoria do filósofo Desidério Murcho, que esclarecem muito sobre o que é a filosofia e como o pensamento crítico pode desfazer alguns equívocos graves que costumamos sustentar:


ótimas introduções sobre filosofia em geral, argumentação e pensamento crítico:

A Inevitabilidade da Filosofia (Desidério Murcho):

http://criticanarede.com/html/inevitavel.html

Zen e a Arte de Manutenção da Filosofia (Desidério Murcho):

http://criticanarede.com/zen.html

3 comentários:

  1. Uma amiga - muito ativa na defesa dos animais - me mandou um link para seu blog. E eu acabei lendo centenas de páginas porque queria realmente entender o veganismo. Parabéns pelos artigos e teses.


    Todo o artigo está ótimo - e concordo totalmente - para entendermos dialética, retórica, razão, a busca da verdade, democracia, ideologias.

    Mas toda a discussão a respeito dos animais parte do princípio de que uma pessoa vale tanto quanto um peixe ou uma formiga porque não existiria nada que justifique “a crença de que os animais humanos tenham status superior”. E é esse o ponto que deve ser discutido porque todo o resto deriva dele. Para quem discorda disto todo o artigo não serve para nada.


    A noção da própria existência e da morte (1), a cultura, as escolhas, as responsabilidades e a liberdade por não sermos determinados geneticamente a agir da mesma forma que todos os outros indivíduos (2) torna a espécie humana especial e superior às outras espécies.
    Somente a consciência humana é capaz de ter conhecimento aproximado da realidade, da verdade.

    E somos especiais também por motivos que sinto, que intuo, que não sei verbalizar nem racionalizar porque “o coração tem razões que a própria razão desconhece” - no sentido original pascaliano (3). A razão é uma ferramenta humana para descrever a realidade que intuimos e sentimos por experiência direta (4).

    Não maltratar animais e matar animais da forma mais indolor possível é um dever moral. Fazer sofrer ou assassinar, por motivos fúteis, é fazer o mal. Mas a própria ideia de que isso seja maldade é fruto apenas da razão humana, os animais não raciocinam e não tem valores.


    Experiências para voltarmos à realidade:
    Um pequeno avião monomotor cai e você e seu filhinho de cinco anos sobrevivem. Vocês estão tomando só água e quase mortos de fome. Existem peixes. Como você não é especista tenho certeza que você jogaria uma folha para o ar: se cair de um lado você pesca e come peixe; se cair para o outro, você mata seu filho.

    A casa está pegando fogo. Sua filha (não coloquei filho novamente para não me acusarem de machista) está lá dentro. Seus dois gatos também estão. É perfeitamente possível salvar primeiro um gato - até para deixar bem claro para os vizinhos e para sua família que você não é um especista. E depois de ter salvado o gato você poderia escolher entre salvar o outro gato ou sua filha. Não, você não pode agora automaticamente ir salvar sua filha porque senão você não estaria tratando-os como iguais, mas como membros de espécies e isso é especismo. Talvez fosse salvo o outro gato e neste maravilhoso mundo novo os avós chorariam a morte da neta - poderia não ter dado tempo para salvar - mas admirariam ainda mais o filho que não se apegou ao especismo.

    Eu pescaria e pegaria primeiro a menina porque, não sabia, sou um especista. O autor afirma que pessoas especistas como eu são seres imorais, deploráveis como “os racistas e os machistas”.

    Mas eu e, acredito, a maioria dos seres humanos não raciocinariam desta forma e nem passaria pela minha cabeça que fiz uma escolha. A própria ideia de que o pai ficasse raciocinando para escolher qual dos dois matar (peixe ou filho) ou quem pegar primeiro (mesmo que não fosse filho(a)), para mim, e para muitos, é que seria imoral.

    ResponderExcluir
  2. Somos superiores aos macacos, aos porcos, aos peixes, às formigas Issas e às laranjas. É importante ter senso de proporção e de realidade.

    Nosso planeta Terra é mais importante que Marte. Eu prefiro que um asteróide caia em Marte do que aqui na Terra. Eu sei que você deve estar me xingando de planetista.
    Quanto ao Reinismo, prefiro ver uma pedra ser destruída a pó a uma arvore ser derrubada. Prefiro ver um pé de alface ser arrancado da terra para dar comida a uma pessoa faminta a ver um peixe ser morto.
    Quanto ao especismo prefiro o abate de um porco ao seu assassinato ou de seu filho.
    Quanto ao racismo na espécie humana não passa de uma discussão de ignorantes porque não existe, geneticamente, raças humanas e discriminar o outro pela cor da pele ou pela cor dos olhos é coisa de imbecis.


    Existem várias confusões conceituais e lógicas ao afirmar que “do egoismo deriva a homofobia, o machismo, o racismo e o especismo”.

    O egoísta e o altruísta são conceitos extremos, caricaturas fora da realidade. O egoísta ficaria sozinho, assim agiria contra si mesmo. O altruísta se beneficia com o próprio bem que faz. São situações misturadas indescritíveis (5).

    Não é possível da defesa da valorização de cada pessoa humana, única e especial, derivar para a homofobia, o machismo e o racismo. Mas deriva mesmo para o especismo porque todas as pessoas são muito mais importantes do que os indivíduos das outras espécies - não tente concluir desta frase que eu defendo a extinção de todas as espécies.


    As expressões usadas “animais-humanos” para diferenciar dos “animais-suínos”, “animais-peixes”, tem a intenção óbvia de deixar todas as espécies do Reino Animal num mesmo bloco indiferenciado.
    Disso decorre, logicamente, que uma criança vale tanto quanto um bezerro, um porco ou um hamster.

    Esta manobra para igualar seres-humanos aos animais já foi utilizada com muito sucesso pelos nazistas em relação aos “ratos” judeus, por Stalin (com os ciganos e judeus) e, atualmente, em genocídios africanos.

    É muito mais fácil matar e domesticar outros seres-humanos se vermos neles simples animais sem autoconsciência (6) do que se concebermos cada pessoa como alguém muito especial e único (7). Os regimes comunistas investem e encaram os cidadãos desta forma. Os favoráveis ao aborto e ao infanticídio (8), à pena de morte e à eutanásia também. O Homem animalizado escravizado pela inteligetsia.

    O indivíduo necessariamente desaparece por trás da animalidade e da coletividade. O que resta é o discurso ecológico, o endeusamento da Terra e da sociedade. São conseqüências dessa dissolução do indivíduo como alguém único e especial: o totalitarismo, o eugenismo, o infanticídio e, em breve, manipulações genéticas e clonagem.

    Este post não pretende fazer você nem os seguidores veganos mudarem de ideia (9), mas serve para as pessoas interessadas pelo tema pensarem melhor sobre o assunto.(10)

    Obrigado,
    Carlos Nigro

    ResponderExcluir
  3. Notas:
    1) Os animais não tem um projeto de vida, por isso a morte não lhes tira nada - é chocante, mas é verdade. Aquelas pessoas que por alguma infelicidade não podem raciocinar e de planejar seu futuro continuam sendo seres-humanos como nós.

    2) Os animais são guiados pelo instinto, não há risco de não guardarem seu devido lugar. O animal é o que é, um ente acabado, hoje e há 4000 anos. (http://www.voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/2010/11/voce-acredita-mesmo-em-personalidade.html)

    3) ¨O coração tem razões que a razão desconhece¨ - frase de Pensamentos (1670-póstuma), nada tem a ver com oposição entre razão e sentimento. Na verdade, as razões do coração são princípios que não são demonstráveis; escapam à razão, mas não os admitir como verdades impossibilitaria qualquer raciocínio. É uma frase para a condição humana, não para o amor. A razão é frágil.

    4) http://www.voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/2010/08/voce-acredita-em-verdades.htm

    5)
    http://voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/2011/11/amor-parte-3-pensar-mais-em-si-mesmo-e.html?utm_source=BP_recent

    6) http://www.voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/2010/11/voce-acredita-mesmo-na-sua-consciencia.html

    7) http://www.voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/2010/12/voce-acredita-mesmo-em-personalidade-ii.html

    8)
    http://voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/2010/10/voce-acredita-mesmo-na.html

    9)
    http://www.voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/p/voce-acredita-mesmo-nisso.html

    10)
    http://www.voceacreditamesmonisso.blogspot.com.br/2012/05/veganos-voce-acredita-mesmo-nisso.html

    ResponderExcluir